quarta-feira, dezembro 29, 2004

Untitled - Se Algum Dia

Se algum dia para um espelho te virares,
Para um espelho mágico e místico:
Espelho que não mostra o fisico,
Mas teu interior sem cobertos olhares:
Verás quem tu és, num retrato perfeito e liso,
Que inveja a qualquer artista mete;
Mas porque é um espelho e te reflete,
Ver-te-ás com um alegre sorriso.

domingo, dezembro 26, 2004

Untitled - Adormece, Sonha e Renasce

Se algum dia a luz se puser enquanto corres,
Não desesperes:
Adormece e um belo sonho sonharás;
Pois a noite é frequente e escurece a todos,
E o Sol renasce todas as manhãs.

domingo, dezembro 12, 2004

Untitled - Retrato De Um Comboio

Correndo sempre,
Seguimos em fila:
Uns para trás,
Outros para a frente.

Cabelos vejo, e caras também;
Olhando p'rós lados, para trás, e p'ra diante,
Pelos espelhos e janelas
Do escuro além.

Seguimos juntos neste espaço a andar,
Com gente olhando, sempre a passar;
Aqui e acolá,
Paramos a descançar.

Para o lado,
Tu adormeces.
Firme, altivo, sentado
Como se num trono te pusesses.

Lado a ti, também
Um leve sono rezas,
Perante teus óculos, e livro de alguém;
A luz tu desprezas.

A ti, não vejo a cara.
Olhos também não veria
Contra o cortinado enrugado amarelo
Como o Sol num quente dia.

Voces duas falavam,
Riam alto, sorriam;
Agora, amolecem ouvindo
Melódicas vozes que não se calam.

E tu dormes nesse lugar
Igual a tantos outros à volta.
Voces, felizes, iam a conversar,
Até apareceres para o reclamar.

Mas cá atrás vais tu a falar
Com aquele que todos gostam de usar;
Todos gostam de agarrar,
Para falar, escrever... passar o tempo e jogar.

E ao teu lado, vais tu a escrever;
O quê, não sei, mas gostava de ler:
Descobrir o que estás a sentir;
Perceber como te gostas de exprimir.

Queria estar no teu lugar,
Oh tu do outro lado.
Tens a hipótese: podes espreitar...
Mas vais de olho fechado.

No entanto, para lá, consigo observar.
Te vejo: intimamente a escolher
O que vais vestir, o que vais comprar;
Diz-me lá tu, o que vais querer.

Paramos, imóveis, no descanço.
Voces entram, olham, avançam.
Alguns sentam, outros continuam e procuram.
Alguns se levantam, trocam; outros perduram.

Mas tu quem és...
Passageiro de pequenos pés?
Com teu cabelo encaracolado enroscado
Nas mãos de quem te leva a todo lado.

Mais não escrevo, é assim que fica
Este comboio de material enlatado;
É esta a tua imagem, aqui te vou descrever:
Num belo cachorrinho branco retratado.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Untitled - Azul de Titão, Azul de Trovão

Azul? O Céu?
Quem o diz?

Em dias de Titão,
Azul o vemos.
Mas quando as nuvens choram,
E as geladas montanhas se derretem,
Escuras manchas moram
No irregular tecto de algodão.
Não é céu também?
É, mas azul não.

Quando Titão,
Leve e calmo se deita
Sobre um azul mar derretido,
Não fica o céu laranja?
De vermelho e amarelo tingido?
Mas não o chamam alaranjado:
Dizem-no azul em todo o lado.

E adormecido Titão,
Acordam as estrelas,
Acordam os planetas:
Afrodite, Zeus e Chronus renascidos;
Qual a cor do manto pontilhado
Sob minguante Diana aos gritos?
Onde o Castor, a Capella e Rigel
Exclamam à Electra, Alcyone e Atlas
Que do alto embalam Orpheu e sua lira
Num belo sonho voado na águia de trovão
Perseguindo tristonho Titão:
É negro, este manto,
Onde alegres histórias perduram.

A cor do céu varia,
É diferente a cada dia:
Depende do Trovão,
e depende de Titão.

Porque dizem ser azul o céu?
Não é sempre a cor dele;
Para saber a cor deste véu,
Simplesmente olhem, olhem para ele.