Correndo sempre,
Seguimos em fila:
Uns para trás,
Outros para a frente.
Cabelos vejo, e caras também;
Olhando p'rós lados, para trás, e p'ra diante,
Pelos espelhos e janelas
Do escuro além.
Seguimos juntos neste espaço a andar,
Com gente olhando, sempre a passar;
Aqui e acolá,
Paramos a descançar.
Para o lado,
Tu adormeces.
Firme, altivo, sentado
Como se num trono te pusesses.
Lado a ti, também
Um leve sono rezas,
Perante teus óculos, e livro de alguém;
A luz tu desprezas.
A ti, não vejo a cara.
Olhos também não veria
Contra o cortinado enrugado amarelo
Como o Sol num quente dia.
Voces duas falavam,
Riam alto, sorriam;
Agora, amolecem ouvindo
Melódicas vozes que não se calam.
E tu dormes nesse lugar
Igual a tantos outros à volta.
Voces, felizes, iam a conversar,
Até apareceres para o reclamar.
Mas cá atrás vais tu a falar
Com aquele que todos gostam de usar;
Todos gostam de agarrar,
Para falar, escrever... passar o tempo e jogar.
E ao teu lado, vais tu a escrever;
O quê, não sei, mas gostava de ler:
Descobrir o que estás a sentir;
Perceber como te gostas de exprimir.
Queria estar no teu lugar,
Oh tu do outro lado.
Tens a hipótese: podes espreitar...
Mas vais de olho fechado.
No entanto, para lá, consigo observar.
Te vejo: intimamente a escolher
O que vais vestir, o que vais comprar;
Diz-me lá tu, o que vais querer.
Paramos, imóveis, no descanço.
Voces entram, olham, avançam.
Alguns sentam, outros continuam e procuram.
Alguns se levantam, trocam; outros perduram.
Mas tu quem és...
Passageiro de pequenos pés?
Com teu cabelo encaracolado enroscado
Nas mãos de quem te leva a todo lado.
Mais não escrevo, é assim que fica
Este comboio de material enlatado;
É esta a tua imagem, aqui te vou descrever:
Num belo cachorrinho branco retratado.